sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Patente?


“Abençoe a taça que quer transbordar, para que dela vertam as águas douradas, levando a todos os lábios a reprodução da sua alegria!
Zaratustra desceu sozinho das montanhas sem encontrar nenhuma pessoa. Ao chegar aos bosques apareceu-lhe de repente um velhote de cabelos alvos que saíra de sua cabana a fim de procurar raízes na mata. E o velhote assim falou a Zaratustra:
Este peregrino não me é estranho; passou por aqui há anos. Chamava-se Zaratustra, todavia transformou-se.”

“Assim Falava Zaratustra”

Nietzsche

Este pequeno trabalho não pretende ser a última palavra no assunto. Pode estar totalmente equivocado. Mas apresenta, no momento atual, e sob meu particular ponto de vista, questões que julgo bastante importantes. Se pessoas sentirem ‘ofendidas “ com o aqui registrado, pedimos desculpas. Não é nossa intenção a crítica pessoal a quem quer que seja, ou qualquer organização dita “iniciática”. Apenas nos moveu uma fria análise do tema.
Em grupos esotéricos ouve-se constantemente dizer-se que fulano ou ciclano é um iniciado e que está investido de tal grau de uma organização oculta ( que deixa de ser oculta no exato momento em que é mencionada, claro.). E quanto perguntamos como se pode ter certeza desta exaltada situação de fulano ou ciclano, ouvimos sempre a mesma resposta.
“Ora, ele possui a Patente deste Grau, conferida por tal ordem.”
Bem, diante disto, só nos resta calar, muito embora inúmeras questões, referentes a tão concludente e simplória afirmativa, surjam em nossa mente.
O que é uma Patente?
Segundo nosso velho e bom amigo Dicionário ( NOVO DICIONÁRIO DA LINGUA PORTUGUESA – 1ª Edição – Ed. Nova Fronteira ), somos informados que “Patente” é um diploma de um membro de confraria.
Também nos é dito que “Diploma” é um título que afirma as habilitações de alguém ou confere grau.”
Desta maneira temos que aceitar o fato de que uma Patente atesta à uma determinada pessoa habilitações, em certo terreno do conhecimento humano. (Mesmo que ela não possui tais conhecimentos e habilidades? O simples fato de possuir uma patente me outorga estas habilidades e estes conhecimentos? Ou minhas habilidades e conhecimentos é que me outorgam a patente? Que dizer então dos títulos “honoris causa”?)
Bem, no meu humilde entendimento, um diplomado em Engenharia, ou em Medicina, ou em qualquer outra disciplina universitária, pode ser testado em suas habilidades, ou conhecimentos, de uma maneira palpável, física e empiricamente falando.
Um engenheiro pode, perfeitamente, ser testado em seus conhecimentos técnicos (matemática, física, resistência de materiais, cálculo, etc.) e/ou por seus projetos. Um médico, por seu lado, através de seus diagnósticos, receitas medicamentosas eficientes, cirurgias , etc. ).
Mas no caso do “iniciado” como testá-lo? Qual o teste que nos dirá com absoluta certeza que ele é realmente um iniciado e que, ipso facto, possui aquelas habilidades e conhecimentos mágico-místicos tão propalados em nosso meio?
Nenhum!
Se você “apertar” um desses “iniciados” que andam por aí, para que ele lhe explique o que realmente representa seu grau, ele simplesmente dirá que você não tem a bagagem iniciática necessária para compreender os mistérios pertinentes ao “nível” em que ele está. Que os conhecimentos dele transcendem a mente profana (encontrando-se em “planos” inacessíveis à percepção direta de uma mente não iniciada, etc.)
Na verdade isto, para mim, é uma verdadeira balela, embromação, etc. Pois tenho visto homens investidos (por patente) de elevadíssimos graus (maçônicos, esotéricos, rosa-crucianos, etc.) agindo de maneira tão profana quanto qualquer um outro mortal; as vezes até pior... Tenho visto homens morrerem afirmando possuir o segredo do Elixir da Longa Vida; e outros padecerem com horríveis enfermidades, afirmando categoricamente estar na posse do segredo da Medicina Universal. Penso, portanto, que aí existe algo errado..

Se voltarmos nossa atenção para alguns grandes líderes da humanidade, constataremos que nenhum deles possuía a tal da Patente para “atestar” suas qualidades. Portanto, como simples exemplo pergunto: tinha Moisés alguma “patente” conferindo-lhe a qualidade de “Enviado de Deus”? E, levando o assunto ao limite do ridículo, quem assinou esta “patente”? Jehovah? E quem reconheceu a firma de Jehovah?
Seguindo este simples raciocínio, quem deu a patente de Maomé ? O Anjo Gabriel? Qual cartório reconheceu a firma do anjo? E Buddha? Este coitado nem tinha um deus para dar-lhe patente.
Mais recentemente temos Ramakrishna, Sri Janardana, e outros mais.... Então como ficamos?
Lembre-se os meus irmãos que a famosa Golden Dawn foi iniciada (assim é dito) por Anna Sprengel a qual, pelo que eu saiba, jamais apresentou suas “patentes” a quem quer que seja, nem mesmo aos fundadores físicos da Ordem. E foi somente a partir da fundação da Ordem que aparecem as primeiras “patentes” dadas a seus membros, isto é, um documento formal, criado pelos Chefes da G.D.
Por acaso Karl Kelnner exibiu alguma “patente” outorgando-lhe o direito de criar a O.T.O.? Não! O que ele trouxe consigo foi um Conhecimento que supera todas as “patentes” e documentos criados em quaisquer épocas.
Visto pelo prisma da análise fria e imparcial, o problema da patente torna-se bastante ridículo.
Eu não quero com isto dizer não haverem homens excepcionais, tais como Moisés, Buddha, Maomé, Ramakrishna, etc. Mas estes homens, pelo que me consta, jamais exibiram um pedaço de papel atestando suas qualidades de “iniciados”, malgrado as “estórias” de que Moisés fora iniciado na “Grande Fraternidade Branca” sediada, na época, no Egipto; ou “Jesus” na Fraternidade dos “Misteriosos Essênios”, que na realidade era uma facção política calcada na pesada ortodoxia da Lei Judaica. E, diga-se de passagem, uma das mais aguerridas.

Via de regra, “devido à sua cobiça pela autoridade (dada por uma patente) estão os homens em constante inquietação. Os que exercem autoridade estão constantemente lutando para mantê-la. Os que não a têm não cessam de lutar para subtraí-la das mãos dos que a exercem. Entrementes, o Homem, o Deus enfaixado (aquele sem patente), é pisoteado pelos pés e pelos cascos dos cavalos e abandonado no campo de batalha, esquecido, e sem o socorro (dos patenteados).”


Terminando este pequeno trabalho coloco aqui as palavras de um homem, que embora venha sendo criticados por muitos, tinha algum conhecimento do que dizia:
“O simples fato dessa gente vir lhe perguntar ( como se isto fosse importante!): Possui o senhor patente? Possui o senhor rituais?” indica a mentalidade crassa desses crédulos imbecis, quando não desses investigadores disfarçados. Patentes que podem ser impressas em qualquer casa impressora sem perguntas feitas, e rituais que podem ser roubados, copiados, gravados, ou usados sem Autoridade e permissão. Você mesmo mandou imprimir papel de um grau da ....... muito acima daquele a que você tem direito, por puro acidente!
O que eles deviam perguntar, se tivessem o mínimo senso e o mínimo grau de prudência, é: “Que tipo de pessoa é o senhor? Possui o senhor a hombridade, a integridade, o equilíbrio emocional e o desenvolvimento espiritual que são indispensáveis a um ‘iniciado’. E uma tal pergunta é inútil de ser feita, a resposta requerendo prolongado exame da conduta do indivíduo, como está escrito, Liber LXV Capítulo V, Verso 58”

‘Como ouro fino que é batido em um diadema para a linda filha de Faraó, como grandes pedras que são cimentadas juntas na Pirâmide da cerimônia da Morte de Asas, assim liga tu as palavras e os atos, de forma que em tudo há um só Pensamento de Mim Adonai teu deleite’

A estas palavras somo aquelas de Alexandre Radichtchev (1749 – 1802)

“Queres saber quem sou? Que sou? Aonde vou?
Sou aquele que até hoje sempre fui,
E que serei por toda vida:
Nem árvore, nem bicho, nem escravo;
Um homem tão somente!
Vou abrir passagem ao homem intrépido
Em lugares onde jamais ninguém pisou;
Ao poeta, ao pensador ardente,
Franquear o Caminho:......


Esperando ter sido útil a meus Irmãos e irmãs;
Euclydes Lacerda de Almeida

(Escrito na Cidade de Linhares – Novembro de 1982)

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei ler sua postagem!
Mande mais!