quarta-feira, 28 de outubro de 2009

SOBRE AS ORDENS

ESOTÉRICAS

© Editora Bhavani

“ A Verdade não tem hora, pertence a todos os tempos. Precisamente quando nos parece inoportuna”

A. Schweitzer

Este é um trabalho sem qualquer maior pretensão a não ser aquela de informar, na medida do possível, certos aspectos concernentes as, assim chamadas, “Ordens Esotéricas”, “Ordens Secretas”, “Fraternidades Ocultas”, ou qualquer outro nome que se queira dar a este assunto tão em moda nos dias atuais, e que vem sendo apresentado ao público sob obscuros e pretensos “segredos” tão a gosto de charlatões.

O trabalho não segue determinada seqüência didática, como se poderia esperar: sendo apenas uma coletânea de anotações, cartas, artigos, críticas, etc., registradas ao longo de anos de pesquisas e experiências no terreno.

A seu tempo, a Mestra Blavatsky declarou, para alarde de muitos e a compreensão de poucos, que “o Segredo é inimigo da Verdade”. Anos mais tarde esta declaração foi plenamente endossada pelo maior magista dos últimos tempos, Aleister Crowley, que em sua fantástica obra nos legou uma mais completa “abertura” em matéria de Ocultismo, Magia, Misticismo, etc., indicando como “desvelar” segredos e usá-los de maneira mais “econômica”, simples, correta e direta.

Muito tem sido dito e escrito a respeito do Ocultismo em geral e da Magia em particular, e muito mais ainda das Ordens, Fraternidades Secretas de Iniciação.

Nos últimos anos, observamos um grande crescimento na procura das Artes Esotéricas em todas as camada de nosso sociedade, o que resultou, como seria de se esperar, na proliferação de enumeras “organizações ocultas”, em que a grande quantidade de ordens e gurus legítimos é ínfima, e a quantidade de falsos enorme. Hoje em dia, a coisa mais fácil é encontrar-se “mestres” ou “iniciados” em cada esquina, ou em programas televisados, ou ler a propaganda de “ordens secretas” em revistas e jornais. Mesmo na televisão podemos ver e ouvir “grandes” magos dando entrevista e fazendo prosélito de seus poderes altamente iniciáticos, baseados em sistemas que, diga-se de passagem, estão totalmente superados. Ou “gurus” que não concordando com os Grandes Mestres, ousam adaptar, à nosso atual ambiente tropical, as figuras e cores de um dos mais sagrados arcanos da Ciência Hermética, os quais, em suas mãos sacrílegas, tornou-se, então, um frívolo jogo de “prever o futuro” – um simples instrumento de enganar o próximo e ganhar dinheiro fácil e popularidade entre imbecis. Ou aquele outro “cabalista”, usando a Divina Linguagem dos Números como meio de projetar-se socialmente e encobrir um grande complexo de inferioridade, resultante de sua raça e problemas de caráter sexual. Seria cansativo enumerar mais exemplos desta profanação e charlatanice sem limites que cresce em nosso meio. A única atitude que podemos tomar, ante o caos esotérico grassando nos dias atuais, é alertar aos incautos e, com paciência de um monge taoista, aguardar que a fagulha de vida existente nestes “magistas” de última hora retorne ao Grande Indiferenciado.

O principal motivo desta febril procura pelo “miraculoso mundo do Esoterismo”, tão explorado pela alcatéia de pantomineiros, tem sido, apressadamente, explicado como uma tendência patológica, uma fuga das circunstâncias adversas que atravessamos em nossa sociedade moderna, tão cheia de problemas. Mas, nós não podemos esperar que a passagem dos Aeons seja sem grandes catástrofes. A passagem dos Aeons é sempre turbulenta.

Em parte, a tese que aponta a fuga das circunstâncias adversas como a causa principal pelo “oculto”, corresponde à verdade em termos, mormente com respeito àqueles charlatões e seus fracos e “inocentes” seguidores. Entretanto, é fato universalmente conhecido que todo indivíduo que procura a Ciência Esotérica, em qualquer de seus ramos, par evadir-se dos problemas, os quais é incapaz de solucionar por seus próprios méritos pessoais, apresenta-se como fraco candidato para aquisição do Conhecimento Oculto e, conseqüentemente, jamais será aceito em uma Real Ordem Iniciática. Disto, podemos concluir o porque somente encontramos personalidades patológicas em falsas ordens. Não há exceção a esta regra.

Ora, o Real motivo desta procura, isto é da procura das Artes Esotéricas, de nascer do, e com o, próprio indivíduo. Deve surgir de “dentro para fora”, residindo em camadas muito mais profundas da alma humana que se possa imaginar, e não num mesquinho desejo de “possuir poderes supra humanos”. Existe num salutar impulso nascente em nossos corações, inexoravelmente nos lançando em direção ao Conhecimento, à Sabedoria, à Mestria, que tudo “sacrifica”[1] em prol daquela pérola rara. Está na Real Vontade, acima de “nossa vontade”; em penetrar nos Mistérios (ou Arcanos) envolvendo e atuando na própria vida do indivíduo. Porém, reinteramos: o impulso, a Vontade, jamais será submetida ao profano desejo de adquirir dons super-humanos, bens materiais, satatus social, poder político ou em “ganhar a mulher do próximo. Isto sendo exatamente aquilo que, na falta de melhor definição, chamamos de Magia Negra.

Estas considerações não querem significar, em absoluto, ser proibido, ao Aspirante, adquirir riquezas, bens materiais, projeção social ou poder político. Mas, para estas aquisições existem outros meios, tais como trabalho honesto, competência, inteligência e persistência, mas jamais o uso da Magia. Muitas pessoas perguntam por que não podemos usar a Magia para ganhar dinheiro. A resposta é simples; porque os PLANOS NÃO PODEM SER MISTURADOS. O verdadeiro magista sabe que deve dar duro como todo mundo normal. Nós Thelemitas compreendemos o desejo de se ter em posse todo o Conhecimento Secreto. Em parte, isto é a ânsia do ser humano fraco, no plano material, adquirir uma muleta: “Como vencer na vida sem fazer força”, etc. A mioria das pessoas interessadas pelo Ocultismo (principalmente pela magia) quer emprego mas não quer trabalho. Esta idéia deve ser suprimida do coração do verdadeiro Aspirante à Iniciação.

No presente momento, atravessamos um período de transição, em meio a um Ciclo que termina e outro que começa; quando o homem se prepara para um novo e decisivo passo em sua caminhada evolutiva. Esta posição, por sua própria natureza, atua fortemente na psique humana, ao sentir intuitivamente que todos os “padrões” religiosos, políticos e sociais vigentes, no Ciclo Anterior, perderam seus valores, estando ultrapassados. Daí a grande confusão. A ânsia por novos valores e sistemas que preencham as lacunas deixadas pelos padrões anteriores. Abre-se, agora, pra a humanidade uma infinidade de “caminhos”, pelos quais ela poderá, ou não, atingir grandes alturas não só materiais como também espirituais. Depende somente de nós.

Com isto, não quero dizer estarmos no “fim do mundo”, idéia esta que só pode excitar mentes doentias e lúgubres como as dos “evangélicos”. Poderá ou não haver uma catástrofe nuclear de conseqüências imprevisíveis. Mas, esta “estória” do fim do mundo (do anti-cristo), em que os “bons (eles os evangélicos, naturalmente)” irão para o “céu”, e os “maus (nós outros, não evangélicos, naturalmente)” para o inferno, é pura besteira: miragens de neuróticos, possuidores de complexo de culpa, de homens e mulheres sexualmente reprimidos; como o é também o boato de um planeta “purificador”, dirigido pela “vontade divina”, influindo diretamente no equilíbrio do eixo da Terra, e que despedaçará o Sol, como afirmam certas correntes espiritistas, cujos médiuns, verdadeiros idiotas, desenvolvem a tendência a OB, abandonando-se à turbilhões astrais, e entregando o Cálice Sagrado de seus corpos a qualquer entidade que aparece dizendo-se “espírito de luz”. Nenhum espírito é de luz, o Espírito é Luz..

A Natureza nos ensina que o Universo é dinâmico, nele nada permanece estático, imutável. Tudo nele muda e se transforma fluindo perenemente em busca da auto-superação, de uma perfeição cada vez maior. A Evolução apresenta-se como um fato incontestável. E tudo que resiste à seu avanço será, mais cedo ou mais tarde, levado pela correnteza das energias postas em ação – é só uma questão de tempo. As partes mais sadias destas partes anti-evolução – se existirem – serão transmutadas no cadinho da química universal. O restante apodrecerá (o que não deixa de ser um tipo de transmutação) servindo de adubo para o “Jardim do Criador”. Entretanto, enquanto estas partes deterioradas persistirem na vã teimosia da resistência ante a mudança renovadora, estarão impedindo o livre fluir das Energias necessárias ao passo seguinte e, por isto, terão de ser alijadas do campo de plantação das novas flores do progresso, tal como amputamos um braço atacado pela gangrena.

Subjugado pela inércia espiritual, a tendência do homem é acomodar-se ao status-quo vigente, principalmente quando a situação lhe é pseudamente vantajosa. Daí, tudo que se lhe apresenta como novo, forçando-o a mover-se ou a pensar, adquire a pecha de nocivo, maligno e subversivo. Entretanto, esta acomodação contém, em si mesma, o aguilhão de sua própria inquietação – pois nada pode impunemente deter o Movimento Universal sem sofrer as conseqüências. A igreja de Roma conhece o fato e tenta, agora, tardiamente, rever seus caminhos. Tarde demais...

A malsã atitude contra o progresso evolutivo ocorreu na maioria das religiões organizadas, fraternidades e ordens ligadas ao Velho Aeon, ou Aeon de Osíris, como também é conhecido, quando o masoquismo psico-fisiológico constituía a “chave” da Consecução Espiritual ou Iniciação, como muitos preferem dizer.

Estas religiões e organizações recusaram-se a evoluir muito embora possuíssem, em si mesmas, o embrião do impulso renovador implícito em seus rituais e lendas. Mas elas fizeram-se cegas e surdas às próprias Palavras de seus iniciadores. Acuadas pelo medo da perda do poder temporal, permaneceram presas aos grilhões de suas próprias quimeras.

O propósito deste trabalho, além de outros menores, será colocar em uma clara e nova perspectiva várias tendências ocultas que direcionaram o reavivar do interesse pelo ocultismo nos últimos anos, e interpretar, sob um novo ponto de vista, este ressurgimento em termos de necessidade humana por uma aproximação universal à realidade transcendendo todo prévio Sistema de Consecução Mágico-Místico.

Como não poderia deixar de ser, daremos aqui maior ênfase ao Trabalho de Aleister Crowley, porque ele, mais do que ninguém, nos últimos anos, incorporou em forma especial toda Tradição Iniciática subjacente à esta atual revitalização do Ocultismo.

“Precisamos urgentemente de uma clara

reavaliação da Religião e do Esoterismo

como conhecemos atualmente, acabando

com a prática oportunista daqueles que

se utilizam de uma e do outro para usu-

fruir ganhos pessoais e políticos.”

Os assuntos que aqui serão tratados são diversos e antagônicos. Na maioria das vezes se confundem devido a estarem ligados à outros dos mais polêmicos, tais como religião, revelação, tradição mágica, tradição mística, etc. Mesmo assim, torna-se necessário discuti-los sem qualquer tipo de restrição, mesmo que, por qualquer motivo sejam usados contra o autor, ou que permaneçam abandonados em alguma poeirenta estante sem serem, sequer, devidamente considerados.

O mito do Pecado Original representa, talvez, o mais destrutivo conceito que jamais influenciou a saúde mental da humanidade, pelo menos naquela parte dominada pela religião, dita, cristã. Que nunca foi cristã na acepção real do adjetivo.

Os primeiros quatro Capítulos do Gênesis podem ter sido explicados à um pequeno número de Adeptos estudando a cosmologia qabalistica para os quais, e pelos quais, eles foram escritos. Mas a má interpretação e o impróprio uso destes Capítulos por um conjunto de imbecis ou pessoas má intencionadas, durante dois milênios de política clerical, provou ser o verdadeiro “pecado original” da Civilização Ocidental. Recentemente, em uma rêde de televisão “cristã”, testemunhei uma monstruosa demonstração a respeito.

Incidentalmente, eu estava assistindo a um programa infantil. Um segmento do tal programa era dedicado a perguntas feitas a respeito da “moral cristã”. Um jovem escrevera que seus colegas estavam sempre contando-lhe “piadas imorais”, e que alguns deles tinham o hábito de folhearem revistas com fotografias de mulheres nuas, tipo “Play Boy”, “Ele e Ela”, etc. Francamente este jovem declarou que, embora reconhecendo que as piadas e as revistas eram “pecaminosas”, elas lhe despertavam uma sensação agradável. Portanto, ele desejava saber se estas sensações eram más e, se afirmativo, que deveria fazer para livrar-se delas.

Após ler as questões enviadas pelo jovem, a animadora do programa (que trajava um sumário “short” e uma blusa bem justa ao corpo, onde se destacavam seus volumosos seios) respondeu numa melosa voz que, embora o jovem ainda fosse criança, ele, como todos nós, havia pecado contra “Deus” devido ao pecado de Adão e Eva no Jardim do Éden. O “sentimento pecaminoso” – disse ela – era causado pela presença deste pecado em todos nós. Ela, então, o aconselhava a rezar para “Jesús” (especialmente antes de dormir – que era o momento em que o “Diabo” mais atacava as pessoas ) admitindo ser um pecador, e convidando a Jesús a entrar em seu coração, dando-lhe forças para resistir as “sensações” agradáveis que sentia ao ver as fotografias de mulheres nuas. Deu-lhe também o filosófico conselho de dizer à seus colegas para não mais contarem “piadas indecentes”, e não mais olharem as referidas fotografias, porque somente assim se livrariam do “castigo de deus”. Infelizmente esta apresentadora perdeu a grande oportunidade de esclarecer, ao jovem, os problemas naturais como sexualidade, etc.

Ora, como a maioria dos crististas não possuem o menor conhecimento (ou interesse) nas fundações “históricas” de sua fé, eles desconhecem que este obscuro conceito faz parte da malsã doutrina católica romana, e que foi criada como meio de um maior domínio sobre as pessoas. Entretanto, alguns ocidentais, cristãos e não cristãos, escaparam da traumática influência desta “vingança original” e conseguiram manter o curso de nossa evolução. Aquele jovem e, talvez, milhares de outros que assistiam o programa tornaram-se vítimas de uma forma de ataque astral-sexual, tão real e deletério quanto um molestamento físico. Os sentimentos e agradáveis sensações daquele jovem não eram “sujos”, ou “imorais”, ou “pecaminosos”, como a apresentadora do programa disse que eram. Na realidade, são naturais e saudáveis, indicando o desabrochar do impulso criativo nos dado pela Natureza. Sentimentos se encorajados, alimentados e dirigidos em um ambiente livre de culpa, podem ser a chave da liberação da Alma. Mas, como incontáveis outros, de gerações anteriores a daquele jovem, no momento supremo do seu despertar, foram levados a envergonharem-se, reprimirem-se e, eventualmente, perverterem aquela Divina Energia, que cada um de nós, compartilha com toda Criação, o assunto tornou-se um “tabu religioso”, auxiliando aos padrecos a usufruírem um grande poder sobre seu infeliz rebanho.

Como todo Iniciado da Gnosis sabe, a utilização desta energia para iluminação espiritual é uma Ciência (e Arte) desenvolvida e cultivada através milênios de prática por várias Escolas Orientais e algumas Ocidentais. Em contraste a rezar a “deus” para ajudá-lo a “não desfrutar” sua sexualidade, os Verdadeiros Deuses estabelecem exemplos de divino erotismo: Brahma e Sarasvati, Vishnu e Lakshni, Shiva e Kali, todos fornecem divinos arquétipos para devotos emular em ação, pensamento, meditação e relações sexuais.

Talvez não exista figura mais contravertida, na moderna literatura esotérica, do que Aleister Crowley. Suas pesquisas nos extremos da experiência espiritual e a sua busca pelo divino somente foram superadas por sua mestria da língua inglesa, e sua habilidade em transmitir suas conclusões à sérios estudantes. Hoje, após quarenta anos de sua morte, seus escritos atingiram um nível de popularidade internacional jamais, sequer, aproximado em sua vida. Nem mesmo seus detratores conseguiram impedir sua influência nas Ciências Esotéricas. A qualidade de seus inúmeros trabalhos revelam um gênio de grande estatura. Muito embora em minha opinião, sua maior contribuição à humanidade tenha sido um dos menores livros atribuído a ele:

O LIVRO DA LEI

Esta “Revelação” chamada Líber AL vel Legis, e melhor conhecida como o Livro da Lei.

Como tudo conectado com Crowley, o Livro da Lei, simultaneamente inspira e repele. Quando eu o li pela primeira vez fiquei tão impressionado que, imediatamente, segui as instruções contidas no final do texto e, cerimonialmente, queimei o livro. Não preciso dizer que meu antigo Instrutor na Grande Ordem deu boas gargalhadas quando lhe contei minha ação. Felizmente, ele tinha outra cópia e me a entregou. O passar dos anos, somente fez crescer meu espanto à grande profundidade do Livro.

O Livro é composto de Três Capítulos. Cada um deles atribuído a um Deus Egípcio, respectivamente NUIT, HADIT e RA-HOOT-KHUIT.

Nuit simboliza os Espaço Infinito> Ela é o Universo ultimalmente expandido, e seu corpo contém todas as estrelas, galáxias e a soma total de todo tipo de possibilidades. Se o infinito é representado por uma Círculo, Nuit é a Circunferência.

Seu Divino Amante, Hadit, também é infinito, mas absoluta contração. Ele está simbolizado como um Globo Alado no Coração de Nuit. Ele é qualquer ponto que tem a experiência das possibilidades inerentes a Nuit. É o ponto no centro do círculo.

Os dois estão sempre em contato. Eles se tocam, se penetram, se abraçam a todo momento: amantes em uma verdadeira escala cósmica. Esta situação recíproca de eterna contração e expansão de dois opostos infinitos cria o finito. Neste finito campo de operação está a fundação do Universo Fenomenal, e é representado, no Livro da Lei, pelo Deus do Terceiro Capítulo, Ra-Hoor-Khuit, a Criança Coroada e Conquistadora, o Senhor do Presente Aeon.

No Santuário da Gnosis (IXº O.T.O.) reside a Secreta Técnica da Magia Sexual.

Aqui devo fazer uma pequena observação: para desilusão dos diletantes procuradores do oculto, paranóicos, repórteres, psicóticos, evangelistas de televisão e outros mais, devo informar que os Rituais da O.T.O. não incluem sacrifícios ou de animais, cópula forçada entre seus membros e outras coisas imaginadas por verdadeiros imbecis, que projetam suas imbecilidades e tendências malsãs, nos mais Santos Arcanos da Ciência dos Magi.

Feita esta necessária observação passemos adiante.

A estrutura da O.T.O. é formada para gradualmente preparar o indivíduo a compreender e competentemente aplicar esta técnica para propósitos mágicos e iluminação espiritual.

O segredo é tão simples que pode ser revelado em três pequenas escolhidas palavras. Mas palavras não conseguem, adequadamente, elucidar o total objetivo da subjacente teoria. Como um solvente universal, ele penetra no verdadeiro âmago de todo mecanismo da criação. Os elementos usados contêm, dentro de si mesmos, todas as possibilidades, e o Iniciado do IXº precisa não ser somente um magista bem treinado, mas também um disciplinado yogi

Diferentemente da Goetia, ou outra tradicional forma de magia, onde o magista raramente está seguro do sucesso da operação, o sucesso ou fracasso do Trabalho do IXº é imediatamente, e algumas vezes dolorosamente, óbvio. Ele jamais falha em resultados. Agora, se o resultado desejado é ou não conseguido depende inteiramente da mestria do magista.

O básico ritual da O.T.O. é Líber XV, a Missa da Igreja Gnóstica Católica. Quando celebrada publicamente as técnicas são executadas simbolicamente. Quando celebrada privadamente são operadas claramente.

De acordo com a Tradição Gnóstica, a transubstanciação dos elementos da Missa (a Hóstia e o Vinho) requer a participação e contribuição de um Sacerdote e uma Sacerdotisa. A Sacerdotisa assumer a identidade da Deusa Nuit e o Sacerdote aquela de Hadit.

Após preliminares purificações e consagrações, eles iniciam um processo de mútuo arrebatamento culminando na Boda Mística onde os elementos (agora energizados) são combinados.

Então eles são eucaristicamente consumidos para manifestarem o desejado objetivo da operação.

Qualquer pessoa desejosa de descobrir e dirigir esta preciosa jóia do Soberano Santuário da Gnósis, deve manter um sério e contínuo estudo da Missa. Algumas Lojas da O.T.O. a celebram regularmente e estão, usualmente, abertas a todo sincero e interessado indivíduo.

II

Devo deixar bem claro que, embora exista uma “história oficial”, registrada em documentos no mundo dos homens, as reais origens das Ordens Iniciáticas jamais serão conhecidas.

A afirmação pode parecer, a priori, absurda ou leviana. Mas, na realidade, um sincero investigador neste terreno defrontar-se-á com uma literatura tão caótica, tão indigestiva, tão mirabolante, que abandonará, logo de início, sua tentativa de querer atingir estas origens. Qualquer honesto investigador sentir-se-á perdido no labirinto de infindáveis documentos a serem manuseados, catalogados e pesquisados ; e o que é pior: perceberá que a maioria deles se contradizem e são forjados no atendimento particular desta ou daquela corrente de pensamento, e que estas correntes – para maior dor de cabeça e confusão – se degladiam obstinadamente. Neste seu trabalho, ele raramente encontrará documentos genuínos.

Nosso investigador também observará que a falta de um ponto de referência o impedirá orientar-se no tempo e no espaço. W, assim, obviamente, estará muito longe de, sequer, avistar a Real Matriz Geradora da Autoridade da qual emana o Real Conhecimento; este Conhecimento apontado, em parte, nas Ordens Iniciáticas do atual movimento ocultista.

Aqui, torna-se necessário abrir um parêntesis para ligeiro comentário do assunto:

“Embora existam Três Fraternidades que se sucedem periodicamente no movimento evolucionário, e cada uma com seu próprio esquema de Consecução Espiritual, elas seguem um plano pré-estabelecido que, no final, dirige-se ao mesmo fito. Isto está simbolizado pelos três filhos de Noé. As Três Fraternidade a que me refiro são: a Branca, a Negra e a Amarela. Quando um novo Magus encarna, elas vêm homenageá-lo com Incenso (estímulo espiritual); Ouro (cooperação no Plano Físico) e Mirra (oposição). Estas Três Fraternidades, como podemos observar, representam três distintas teorias do Universo. São Elas as divulgadoras e mantenedoras das legítimas Correntes Iniciáticas do Planeta. E nada têm a ver com aqueles Mênstruo denominado a Grande Feitiçaria ou “Loja Negra” (não confundir com Fraternidade Negra), causadora de todas as mentiras superstições e usurpações existentes em nosso mundo. (Fim do parêntesis)

Em vista de tão confuso e desolador panorama, certas pessoas julgarão, e com toda razão, que a Ciência Esotérica não passa de pura invencionice, lenda ou desejo inconsciente de encontrarmos, alhures após a morte, um estado parasidíaco (um céu), e que toda esta Ciência nada mais significa do que uma fuga da realidade; uma fuga do cotidiano; um escape das tensões e dificuldades resultantes das pressões na luta pela vida. Ou, como disse certo autor: “A idéia da morte, o temor dela, persegue o animal homem como nenhuma outra coisa – ela constitui um dos maiores incentivos da atividade humana em busca da uma vida no além”

Este ponto de vista, entretanto, não corresponde à realidade: existe uma História Real das Origens, dos processos, das necessidades do aparecimento das Ordens Iniciáticas na face da Terra. Porém, esta História está muito longe de ser conhecido pelo homem comum. Ela é propriedade dos, e somente é conhecida, pelos Mestres: somente eles possuem o discernimento necessário para apreciá-la em todas suas causas e efeitos. Somente eles têm acesso irrestrito aos anais destes Sistemas de desenvolvimento das Fraternidades de ontem, de hoje e de amanhã; e somente eles têm acesso o copioso e detalhado material das atividades, das crônicas e dos verdadeiros Nomes destas escolas. Como exemplo, podemos citar a Maçonaria que, embora incluída no grupo das ordens sérias, sua real saga ainda não foi totalmente esclarecida ao público – ainda mais, nem mesmo os próprios mações, com raríssimas exceções, a conhecem. Disto, os disparates proferidos em suas Lojas a respeito destas origens. Porém, isto não tem muita importância agora, porquanto sendo a Maçonaria uma organização criada pelos Metres para combate à Grande Feitiçaria, ela perdeu seus verdadeiros rumos, ao não aceitar a Lei do Novo Aeon. Ela está, portanto, ultrapassada tanto quanto o Catolicismo Romano. Tudo isto ficará bem claro para aqueles que se derem ao trabalho de estudar e meditar atentamente sobre as últimas descobertas realizadas no Mar Morto (veja-se “OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO”, de John Marco Allegro – Publicações Europa América). Aos que preferem continuar na ignorância de suas fantasias, nada podemos fazer...

Para espanto de muitos, podemos dizer que as Três Escolas acima citadas fazem uma única e só, no Grande Drama da Evolução.

A própria Golden Dawn, que floresceu na Europa no Século XIX e início do XX, não foge a esta regra e, assim, por esta ou aquela razão, vamos encontrar lá pelo final do Século XIX, dois movimentos do ocultismo ortodoxo agitando profundamente o interesse dos europeus, sem citarmos aquela já célebre Fraternidade Rosa-Cruz, descrevendo a vida de um personagem mítico chamado Christiano Rosycross. A “Fama” e “Confessio”, descrevem sua vida e dá ligeira “história” da ordem.

Os dois movimentos foram:

1. O Espiritismo

2. A Teosofia, iniciada por Blavatsky em 1875.

(Torna-se muito significativo o fato de que em 1875, ano da fundação da Sociedade Teosófica, nascia em terra inglesas Aleister Crowley ).

O aparecimento da Golden Dawn, no âmbito público, está marcado de muitas lendas. Sobre o assunto encontramos três versões. A que vamos relatar, é necessário dizer, pode ser a mais próxima da verdade, mas também pode constituir – quem sabe? – a mais desavergonhada das mentiras.

Três membros da Sociedade Rosacruciana In Anglia e o Rev. A.F. Woodford, amigo de Kenneth R.H. Mackenzie (autor da “ENCICLOPÉDIA MAÇÔNICA” ) foram, ao que parece, os iniciadores da Ordem, mas é também provável que outros esoteristas participaram dos primeiros passos.

Ao falecer em 1885, Fred Hockley, legou a Woodford alguns de seus documentos pessoais e, entre estes, singulares manuscritos cifrados. Woodford não interessou-se muito, inicialmente, pelos papeis. Só muito tempo depois é que mencionou-os a seu amigo Westcott, que veio a estudá-los um anos mais tarde.

Somente em 1887 os manuscritos estariam decifrados. Segundo Westcott isto não apresentou muita dificuldade. Apenas trabalho. O interesse sobre tais documentos aumentou muito após sua decifração e o boato que eram rosacrucianos; e muito mais tarde ainda pelo fato de serem um esboço de cinco rituais de características mágico-iniciáticas. Em um desses documentos, encontrou-se um endereço que, supunha-se, pertencia a um alto Iniciado Rosa-Cruz: Anna Sprengel, de Nuremberg [2], cujo nome iniciático, naquela Ordem, era S.D.A., quer dizer, “Sapiens Dominatur Astris – A Sapiência é Regida pelas Estrelas.

Já bastante entusiasmado, Westcott comunicou o fato a S.L.MacMathers ( conhecidíssimo ocultista e mação de alto grau). Excitadíssimo, Mathers, juntou-se a Westcott, cooperando com ele no fito de usar os rituais praticamente em trabalho em loja. Isto muito alegrou a Westcott, e a eles juntou-se o Dr.W.R.Woodman, para aquele mister.

Uma carta foi enviada à tal Anna Sprengel. A resposta não tardou a vir, dando início a volumosa correspondência.Logo em seguida à grande número de ensinamentos fornecidos àqueles grupo, os três homens receberam o Grau de Adeptus Exemptus, isto é, 7° = 4ٱ G.`.D.`., e uma patente dava permissão e início da primeira Loja da Ordem fora do continente europeu, trabalhando com os cinco rituais decifrados por Westcott.

Em 1891, sem qualquer explicação, toda aquela volumosa correspondência parou de ser enviada. Paralelamente, notícias da Alemanha informavam que:

1. Anna Sprengel havia falecido

2. Não tendo sido, na época, a iniciativa de Sprengel aprovada por seus confrades;

3. Instruções não seriam mais enviadas para a Loja Inglesa, e que o Elo com os Mestres Secretos teria de ser formado por iniciativa e esforço dos próprios formadores daquele Ramo, porquanto os ensinamentos administrados por “S.D.A.” eram suficientes para isto.

As notícias provocaram grande alarde entre os iniciadores ingleses e, é claro, todos passaram a trabalhar no sentido de um contato com os Mestres Secretos.[3]

Invencionice, ou não, o fato é que Mathers foi o primeiro a declarar ter obtido este contato e que havia, assim, formado o elo tão almejado. Baseado em novos rituais surgiu uma Ordem Interna – R.R. et A.C. (Rosa Rubea st Áurea Crucis), o Poder Central Controlador, daquele momento em diante, de todas as atividades nos Templos e Lojas da G.´.D.´., o qual era uma espécie de “Câmara de Adeptos”.

Bem antes desses fatos terem acontecido (1875), nascera Aleister Crowley, cujo pensamento renovador mudaria totalmente as antiquadas concepções da Magia Ritualística, do Misticismo e da Iniciação propriamente dita. E seria ele também o ponto focal de todas as peripécias pelas quais passaria a Ordem da Golden Dawn, até sua mutação no futuro.

Por natureza própria, o jovem Aleister Crowley sentia-se altamente atraído pelos assuntos esotéricos e, assim, debruçou-se sobre os livros desta Ciência devorando-os todos. Eventualmente, ao ler “Nuvens Sobre o Santuário”, avivou mais ainda sua procura no sentido de contatar aquela famosa Assembléia de Sábios, vulgarmente conhecida como a GRANDE FRATERNIDADE BRANCA.

Em 1898, sendo iniciado na Golden Dawn, através convite e apresentação de seu particular amigo George C.Jones, Crowley, tomou o moto mágico de PERDURABO (“Eu Perdurarei Ate o Fim). E isso ele cumpriu fielmente embora nada houvesse, no fim, para perdurar. Observe-se que no final da palavra Perdurabo está a letra “O” (Ayin=Nada) ou zero. A letra hebraica Ayin significa, entre outras coisas, Nada, Zero, Útero, O Não Manifestado. Ela significa “Olho”, e tem valor 70. Ayin representa absolutamente Nada, ou Nenhuma Coisa. É não manifestação pura e simples, e somente disto pode a Manifestação proceder. A primeira formulação de Nenhuma Coisa é sua reflexão ou imagem inversa, ou seja, Alguma Coisa, e isto está representado pelo número 1 (Um). Aleph – O Tolo no Taro.

Em Abril de 1904, no Egipto (Cairo), precisamente durante os dias 8, 9 e 10, Perdurabo, traz à luz LIBER AL (O Livro da Lei) ditado diretamente por AIWASS, inaugurando o Aeon de Horus, e a Lei de Thêlema

Aiwass é identificado como sendo uma entidade praeter-humana. O valor numérico de Aiwass é 418, o Número da Grande Obra; enquanto Aiwaz (com final “Z”) soma 93 (3x31), a Chave do Livro da Lei. No sentido de compreender a natureza de Aiwass, talvez não esteja muito errado imaginar este Daemon como similar aos Dhyan Choans (Espírito Planetários) que usaram H.P.Blavatsky, e outros Adeptos, como canais vivos para intercâmbio com a humanidade.

Mais ou menos nesta época, A. Crowley, publica os Rituais da Golden Dawn, nos quais aparecem os personagens da Estela da Revelação e Líber AL, isto é, os Deuses Egípcios a saber: Nuit, Ra-Hoor-Khuit, Bes-Na-Maut e Ank-f-n-Khonsu, substituindo os Oficiantes (visíveis e invisíveis) do Templo.

Assim, morre a Golden Dawn, ou melhor, Ela desaparece em sua forma anterior, mas desta morte nasce a A.´.A.´. que dirige agora, sob a Baqueta de Horus, a evolução da humanidade nos próximos dois mil anos.

III

A maioria dos, assim chamado, “ocultistas”, associam, de imediato, o nome de Aleister Crowley com “Satanismo”, ou coisa parecida, sem ao menos saber corretamente o que seja Satanismo. Na verdade, na vida conceitual moderna, no que tange o Ocultismo, foi profundamente influenciada, a partir dos inícios deste século, pelo pensamento daquele homem.

Torna-se, cada vez menos possível, falar de Ocultismo sem mencionar o nome de Aleister Crowley ou do “Mestre Therion”. Do mesmo modo, torna-se também impossível falar de Thelema no Brasil, sem mencionar Marcelo Ramos Motta e Euclydes Lacerda de Almeida.

Um dos maiores paradoxos observados, e com batante freqüência, no cenário do Ocultismo atual, e que alguns indivíduos têm sido incompetentes em acompanhar as mudanças deste Novo Ciclo que se inicia e nos mostra o Real Caminho em direção à Gnosis.

Até o ano de 1904, os Sistemas Esotéricos trabalhavam sob a égide da Lenda do “Deus Sacrificado” (Osíris, Dionisios, Jesús, etc), com mínimas diferenças entre si. Isto não representava, na época, grande importância. Mas acontece que a espiral evolutiva deu mais uma volta, e a partir daquele ano, com o Evento do Equinócio dos Deuses, a Nova Lei começou a atuar, e vem passando um rolo compressor sobre todas as tentativas de manutenção do Antigo Sistema e, por este motivo, todas as tentativas de manter e reviver o Sistema, já ultrapassado e mumificado, tendem ao absoluto fracasso, no plano espiritual, muito embora possa “crescer” no plano material, como as diversas igrejas evangélicas existentes em nosso país e fora dele. Todos os discípulos de Marcelo Motta foram, por ele, alertados para este fato.

Em 1942, Aleister Crowley, então o Cabeça Externa da O.T.O., enviou uma carta à seu dileto auxiliar, Karl Germer, dando-lhe uma série de instruções quanto ao futuro da Ordem. Entre estas destacamos a seguinte: “I shall appoint you my sucessor as O.H.O.. but in special terms. It is quir clear to me that a complete change in the structure of the Order and his methods is necessary..”

Está mais do que claro, pela leitura da carta, de que o próprio Aleister Crowley percebera que, naquele momento, profundas mudanças deveriam ocorrer no âmago da Ordem para que ela pudesse sobreviver como pleno veículo da Corrente Thelêmica futuramente,

Infelizmente, Karl Germer, por motivos ainda desconhecidos, falhou em perceber e/ou aceitar o aviso de Crowley[4] com suas imediatas implicações. O resultado desta falha tornou-se desastroso para com a Ordem em todos os seus níveis, como foi patente através de todos estes anos.

Agora, quarenta anos após a morte de Crowley, torna-se evidente o motivo da Ordem esfacelar-se em vários ramos e sub-ramos degladiando-se mutuamente, quebrando sua unidade, dando ensejo a que muitos deles retornassem às práticas do Antigo Aeon, e a perderem-se em alianças espúrias com Correntes totalmente opostas à Thêlema.

É incontestável que algumas destas facções apresentem um crescimento no Plano Material. Mas, este4 é um falso crescimento, nada tendo a ver com aquele idealizado no Plano Espiritual.

A quebra da unidade da Ordem tornou-se evidente após a morte de Karl Germer em 1962, quando a Ordem sofreu um grande cisma, deixando de ter um Líder Mundial à sua altura, e que reorganiza-se o trabalho, impedisse os abusos e administrasse a Ordem num verdadeiro e bem fundamentado movimento thelêmico. Dentro deste panorama podemos citar as tentativas de Marcelo Motta em realizar este trabalho. Mas o campo da O.T.O. já estava por demais minado. Há que, aqui, evidenciar-se a fraca posição de Sascha Germer, ante o quadro que se delineava.

Em conseqüência, o acontecido foi o surgimento de vários “líderes”, cada qual puxando a sardinha para as brazas de suas próprias organizações “independentes”, esquecendo-se da meta fundamental da Ordem – Unidade e Disciplina Hierárquica.

Crowley, como grande iniciado que era – e como o Mago do Aeon – previra, cinco anos antes de sua própria morte, este caótico quadro e assim o percebendo, e desejando evitá-lo, escreveu aquele aviso a Germer, o qual não soube dar a devida atenção.

De qualquer maneira, deveria tornar-se evidente a todos que uma Corrente Mágica não pode desobedecer a seu Líder Maior. Como exemplo deste tipo de ação e suas conseqüências, pode ser assinalado na Teosofia e nas, assim denominadas, Ordens Rosa-Cruz que, negando-se a seguir os derradeiros avisos de seus reais líderes, decaíram sob a maciça infiltração de elementos inadequados à seus princípios. Estas organizações, muito embora tenham, algumas delas, crescido externamente em riqueza material, popularidade, etc., decresceram espiritualmente a olhos vistos. Portanto, torna-se mais que evidente os motivos pelos quais a Ordem, até hoje, não conseguiu firmar-se em vários países em que se apresenta, sem deturpar-se e perdendo a Unidade necessária a fazer frente aos desafios e ataques mantidos, pelas organizações que, embora mortas espiritualmente, ainda mantêm o poder político e financeiro – as Ordens e Religiões da Grande Feitiçaria ou dos Irmãos Negros. Assim, nós nos dividimos, desde a morte de Aleister Crowley, em uma maioria de escolas exotéricas, crescendo em número de membros, cujos maiores exemplos é aquela denominada Caliphado, e aquelas outras associadas ao nome de Kenneth Grant, que também se apresenta como O.H.O. da Ordem. Mas, nenhuma dessas duas correntes recebeu uma definitiva Patente de Baphometh XI, embora clamem ao contrário. O único que possuía esta Patente foi Karl Germer. Mas, como dito, ele morreu em 1962, sem apontar um sucessor. Porém, apesar das mais variadas constestações, existe uma terceira escola. Entretanto, os membros desta escola preferem ficar em silêncio, enquanto observam o desenrolar dos acontecimentos.

Outro ponto a considerar é aquele que alguns grupos vêm adotando: fazer candidatos passarem por um período de “probação”. Isto é indiscutivelmente errado, contrário às regras da OTO. A OTO não é a A.`.A.`., em que pese as idéias de Kenneth Grant fundir as duas Ordens em uma só.

Esta determinação, que alguns grupos adotaram, é uma presunção mostrando tão somente a pretensão em escolher quem serve ou não para a Ordem. Representa uma seleção mascarada e, como tal, indevida. Como poderíamos saber se no corpo de um analfabeto não está oculta uma alma de grandeza bem maior que a nossa? Como saber se no corpo de um mendigo não se oculta um Rei?

Todos, sem quaisquer exceções, têm o sagrado direito à Iniciação aos Três Primeiros Graus da Ordem (OTO). Nossa obrigação é cumprir nosso Juramento de Serviço, seja para com quem for. Nosso Instrutor nos relatou, certa vez, que o Chefe do Serviço Secreto Suíço começou a investigar a Ordem em seu país, preocupado com a segurança do país. Seu filho Metzger tornou-se Rei Suíço da Ordem anos mais tarde, tendo sido nela introduzido como espião pelo próprio pai. Como vemos, “o tiro saiu pela culatra”.

Portanto, torna-se necessário reagirmos contra este tipo de preconceito, desta discriminação priorística, desta tendência elitista (nazista?), sendo ela o resultado do contato de nossas auras com influências doentias. Tudo isto originando-se no plano emocional, estando eivado da “ética” cristista.

Observa-se, também, que alguns “thelemitas” temem a possibilidade de entrar em conflito com os padrões adotados pela sociedade vigente. Custo a acreditar que tais indivíduos, sequer, sejam capazes de tal ingenuidade, e pergunto, de fato, se eles supõem que ser um Iniciado é viver num “mar de rosas”; sem qualquer tipo de atrito, seja familiar, social ou político.

É ingenuidade, maior ainda, pensar que qualquer Organização realmente iniciática não entre em conflito com as leis e costumes arraigados em uma sociedade, seja qual for esta sociedade – principalmente, aquela baseada nos padrões trogloditas do Antigo Aeon. Ou será que as pessoas, ditas interessadas em seguir Thêlema, têm a ilusão que o Sistema pode ser atuante sem efeito político ou social? Acordem! Saibam que toda e qualquer organização que não sofre perseguições e conflitos com a sociedade atual, com a política e, particularmente, com a religião “oficial”, é porque nenhuma valor possui, ou estará de uma maneira ou de outra, aliada ao poder vigente. E se as pessoas querem um tal tipo de organização, para que procurá-la? Não já têm a Maçonaria Osiriana, a AMORC, ou a Igreja de Roma e suas filiais a dispor? Portanto, que fujam das Ordens Thelêmicas.

Logo após assumir a liderança da OTO na Inglaterra, Crowley, revisou os rituais da ordem a pedido de T.Reuss; assim é dito. Mas sem mudá-los profundamente o necessário. Vejam vocês mesmos os resultados do uso desses Rituais nos últimos sessenta anos. Uma Ordem indisciplinada, dividida contra si mesma, eivada de confusão e anarquia. Agora, pergunto seriamente, quais são os Rituais usados pela OTO, tanto Norte Americana, quanto de qualquer outro país? Motta, sempre me alertou para este particular assunto; principalmente quando soube da indevida publicação desses Rituais, o que os tornou sem mais qualquer valor iniciático. E, diga-se de passagem, que esta iniqüidade foi aprovada por um dos, assim chamados, Cabeça Externa. Perguntar-se-á: porque a publicação dos Rituais é, sob todos os pontos de vista indesejável? A resposta é óbvia: todo e qualquer Ritual iniciático contém, em seu texto, ordálias (provas, testes, etc). E se estas ordálias vêm a ser conhecidas antecipadamente pelo candidato, que valor haverá em vencê-las? É exatamente como no caso do estudante se submetendo a uma prova de qualquer matéria sabendo, antecipadamente, as respostas das questões.

Muita gente tem falado e escrito sobre a Lei de Thêlema. Mas, esta gente mal conhece a Lei, e mal a compreende. As definições dos propósitos da estrutura e fins da Sociedade Novo Aeon (uma organização thelêmica), tais como querem defini-las certos indivíduos, são ofensivas a Lei de Thêlema, e eu, como Fundador e Supervisor Geral da S.N.Ae., não posso permirtir que isto continue e, conseqüentemente, reflita de forma inadequada sobre os propósitos que a Sociedade representa e para os quais foi criada.

No Brasil, a S.N.Ae. representa um importantíssimo designo que só poderá avançar através de total seriedade, não somente no âmbito espiritual, como também no material combinados com absoluto respeito hierárquico e humano entre seus membros, e total dedicação aos ideais que ela representa. Não desejo comparar a S.N.Ae com a OTO (tal presunção seria ridícula), ou exagerar sua importância; mas no nível de suas prerrogativas, a S.N.Ae. tem seu papel no contexto thelêmico brasileiro como nenhuma outra organização que exista atualmente ou venha a existir no futuro. Ou pensam, por acaso, que a S.N.Ae. foi fundada e organizada para servir aos desejos pessoais de um Euclydes Lacerda de Almeida ou de um Marcelo Motta, ou de outro qualquer indivíduo, ou ser joguete de outros tantos? A S.N.Ae., embora formada por nós, é concepção de “alguém” muito além de nós.

A S.N.Ae., por força de seus estatutos, não pode formar alianças com quaisquer grupos, especialmente aqueles claramente ligados à Corrente Osiriana. Como dito por Marcelo Motta, “tais organizações podem se juntar a nós, mas apenas através assimilação total por nossa parte. Em suma: rendição incondicional é a única solução que aceitamos”.

Obstinação, determinação, persistência, sofrimento, são palavras que marcam a transformação de um sonho em realidade. E esta é a carreira de todo Iniciado (do real Iniciado, certamente).

Para quem não conhece a lei, talvez seja difícil entender o significado de poder orgulhar-se de já ter tanto tempo no Caminho e, ainda mais importante,, chegar àquele momento em que você decide o seu futuro. Nós somos os desbravadores de uma Nova Era. As nossas co-irmãs do passado percorreram os Caminhos que lhes eram atribuídos. Sejamos dignos dos que prepararam os atuais Caminhos. Por isto não podemos permitir que se use, que se abuse, que se brinque, que se locupletem, ou que exponham o Nome da Ordem, ou da S.N.Ae. As conquistas internas, isto é, as verdadeiras Consecuções Espirituais, jamais nos podem ser tiradas. Mas nós responderemos pelo uso ou abuso delas; como também responderemos pela charlatanice em declarar que as possuímos, se não as possuímos. É, portanto, nosso dever mudar o panorama desenhado em nosso país, e para tal foi criada, no Brasil, a O.C.T., totalmente desvinculada da Ordem, como atualmente apresentada. Mas s O.C.T. não está desvinculada da Lei. A O.C.T. foi criada para encetar novos passos no Trabalho iniciado por nossos ancestrais, tais como Theodor Reuss, H.P.Blavatsky, Fernando Pessoa, Aleister Crowley, John Parsons, Karl Germer, Marcelo Motta, e muitos outros que tanto fizeram, oculta e abertamente, pela divulgação da Lei de Thêlema em sua total integridade, tanto no Brasil como em outras terra. A decisão de criara a O.C.T., fundamentou-se em não mais usar a Sigla ou o Lamen tradicional do OTO, pois ambos estão sendo usados de muitas maneiras e de muitas formas erradas, mentirosas e charlatanescas. A Sigla, pela Lei Brasileira, pertence aos herdeiros de Marcelo Motta; que errou drasticamente em registrá-la, porquanto Sigla e o Lamen são Universais.

Para conhecer a história da Ordem no Brasil, é necessário percorrer os caminhos daqueles que estiveram profundamente inseridos nesta história e neste desenvolvimento. Não é tão somente emitir considerações pessoais, baseadas em alguma poucas referências encontradas aqui e ali em comentários e textos nem sempre alinhados com a verdade, ou quanto muito com meias-verdades. Porque os dados liberados publicamente representam apenas a ponto do “iceberg” em relação à ordem. Muita coisa ainda existe submersa, e somente aqueles que, como dito acima, participaram ativamente na Ordem em seu primeiro período de aparecimento em nosso país pode, conscientemente, falar dessa história. Quem acompanhar a “onda” das opiniões estapafúrdias de “comentadores” fora desta experiência pessoal pagará um alto preço para manter a credibilidade de suas opiniões pessoais.

Declarações sobre os erros cometidos pelo único responsável pelo aparecimento de Thêleam no Brasil são muito superficiais, não levando o respaldo da experiência pessoas daqueles dias. Todos se esquecem, que o alarde do Ramo Norte Americano da Ordem (COTO), somente atingiu o nível atual depois de uma série de intrujices, e após uma decisão judicial claramente unilateral, onde depoimentos distorcidos formaram as bases para seu desfecho. Mas, computado o efeito real dessa “vitória” dos homens do norte, vemos que apenas resultou numa ordem de baixíssimo nível espiritual e grande poder material, o que nunca foi escopo da Ordem.

O “votado” líder do norte (um ex-discípulo de Marcelo Motta), tal qual aquele outro (também um outro ex-discípulo) têm, abertamente, procurado bajular Frater M. na esperança de que este não veja as suas patentes contradições “iniciáticas”.

Em 12 de agosto de 1995, Fra. M. recebeu uma carta de Fra. A.T., da qual sublinhamos a seguinte sentença: “... as you are the sênior member of the A.´.A.´. in Brazil...”

Da mesma forma, em carta datada de 9 de maio de 1995, S.H., afirma: “Although everyone acknowledges Mr..... as the sênior authority on Thelema in Brazil”.

Portanto, , “altos membros” de duas “Ordens Thelêmicas” reconhecem, com a autoridade que lhes compete, que o mais alto grau nas duas Ordens, no Brasil, pertence a Fra.M, que seguiu a mesma política de seu antecessor e começou a “expandir” a Ordem através uma série de medidas que, sob nosso ponto de vista, nada têm de comum com os Princípios Iniciáticos da Ordem. Entretanto, estas declarações chiram a uma manobra política. Em nossa constante desconfiança deles, desdenhamos a afirmativa. Nossa intenção não é ser “O Grande Iniciado Brasileiro”, mas sim concretizar algo em termos thelêmicos em nosso país – uma obra que marque, pela primeira vez, um ponto plenamente al alcance do público em geral.

IV

Rápido Esboço

Sobre

Crowley

e o

Sistema Thelêmico

Aleister Crowley nasceu a 12 de outubro de 1875 e.v., as 22hs50min. Filho de Edward Crowley, Irmão Exclusivo da Irmandade de Plymouth (evangelistas extremistas), e de Emily Bertha, nascida Bishop. De família aristocrática, foi educado por outra seita de evangelistas extremistas, Herberson.

Desde pequeno (4 anos) lia a Bíblia em voz alta, demonstrando grande predileção pelas listas de longos nomes.[5]

Foi enxadrista, só abandonando o jogo quando já sabia o máximo sobre ele, e derrotava invariavelmente qualquer mestre. Sua memória era quase infalível. Sabia a localização de quaisquer versículos da Bíblia. Sua facilidade para aprender línguas (Latim, Grego Antigo, etc), Matemática e Ciências era espantosa. Sua repugnância era para com História, Geografia e Botânica, assim como jamais escreveu versos latinos ou gregos.

Recusou-se a fazer a segunda parte do exame final de Bacharel em Artes, porque sabia que tinha domínio absoluto da matéria mais do que seus próprios professores. Aos alpinistas que, na época, foram seus companheiros, parecia incrível que um tal completo preguiçoso pudesse ser mais ousado e mais destro montanhista de sua geração, como demonstrou ser quando o precipício fosse um que ninguém mais tivesse conseguido escalar antes. Uma vez que tivesse elaborado teoricamente um método de escalar uma montanha, estava perfeitamente disposto a confiar a outros o segredo, e a deixar que estes outros se apropriassem da glória.

Era dono de uma ambição pessoal consumidora e insaciável. Perdeu o interesse pelo xadrez logo que se provou mestre do jogo aos vinte e dois anos. Trocou a poesia pela pintura ao tornar evidente ser o maior poeta de seu tempo. Mesmo em Magia, tendo se tornado a Palavra do Aeon, e assim assumido seu lugar entre os Sete Magi conhecidos pela História, iniciou a negligenciar a matéria. Só era capaz de devotar-se à Magia, como o fez, por haver eliminado toda idéia pessoal de sua Obra; ela se tornou tão automática quanto a respiração.

Uma memória fantástica, incrível disposição para exercícios físicos, e ao mesmo tempo incapacidade de uma pequena caminhada se esta não lhe interessasse ou não lhe excitasse a imaginação. Tornou-se famoso em muitas e diversas esferas de ação e ao mesmo tempo grotescamente incapaz de utilizar suas faculdades em qualquer campo da atividade humana para fins próprios; incapaz de consolidar sua proeminência pessoal, ou mesmo de assegurar sua posição do ponto de vista social e econômico.

Deveria seguir a carreira de embaixador, mas a fama de um embaixador não dura mais de um século. A de um poeta é da mesma forma efêmera. A Terra mesma um dia vai sumir. Crowley necessitava construir usando material mais permanente. Dedicou-se ao estudo da Magia. Adotou o Moto Mágico Perdurabo – “Eu perdurarei até o fim”[6].

Em 1900 estava no México, fazendo Magia com sucesso. Foi nesta época que conheceu Oscar Eckstein, colega de alpinismo, que a princípio não queria nem ouvir falar de Ocultismo. Depois revelou-se um mensageiro da Grande Fraternidade Branca.

“Tua mente divaga demais”, afirmou-lhe Eckstein, e, em seguida ensinou-lhe alguns preceitos de como controlar a mente. Os anos de 1901 e 1903 foram dedicados ao trabalho de fazer com que a mente ficasse sob controle. Isto ele conseguiu através da Yoga.

Durante o inverno de 1905-1906, esteve viajando através da China. Atingir a fase da conquista da mente, e a sua própria desmoronara. Viu que a mente humana é, por natureza, evanescente, porque sua natureza não é unidade e sim dualidade (ilusão). A verdade é relativa. Todas as coisas terminam em mistério. Com estas frases os filósofos do passado formularam uma proposição, anunciando a bancarrota intelectual que ele, com maior franqueza, descreve com o sendo insanidade. Passando por isto, ele se tornou como uma criancinha, e alcançando a Unidade além da mente , descobriu o propósito de sua vida formulado nestas palavras: “A Obtenção do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião”.

Seu amigo e seguidor Cap. Fuller, narrando como foi a Revelação, escreveu:

“... veremos que a Grande Fraternidade branca, preparou Frater Perdurabo sutilmente, por mais de dois anos de treino em racionalismo e indiferentismo, para receber a Mensagem D´Eles. Eles executaram tão bem o trabalho que ele recusou a mensagem por cinco anos mais, a despeito de muitas estranhas provas da verdade Dela. Frater P. teve mesmo que ser totalmente “despido de si mesmo”, antes de poder transmitir a Mensagem com eficiência.”

O próprio Aleister Crowley escreve sobre LIBER AL (O Livro da Lei):

“Estou certo, eu a Besta, cujo número é 666, de que este terceiro Capítulo do Livro da Lei é nada menos que a autêntica Palavra, a Palavra do Aeon, a Verdade sobre a Natureza nesta época e sobre este Planeta. Eu o escrevi, odiando-o e escarnecendo Dele, secretamente alegre de que eu poderia utilizá-lo para me revoltar contra esta Tarefa terribilíssima que os Deuses atiraram sobre meus ombros: a Cruz deles, de aço e brasa, que devo carregar até o meu Calvário, o lugar do crânio, para la ser desembaraçado de seu peso, apenas para que possa ser crucificado sobre ela...”

“Eu, entre todos os homens sobre a Terra, reputado como o mais poderoso em Magia, por meus inimigos mais que por amigos, tentei perder este Livro, esquecê-lo, desafiá-lo, criticá-lo, escapar dele, durante quase dezesseis anos: o livro me mantêm no curso que estabelece, assim como a Montanha de Pedra Imã atrai os navios, ou como Helius, por laços invisíveis, controla seus planetas: sim, ou como BABALON aperta entre suas coxas a Grande Besta Selvagem em que Ela cavalga.”

Em seguida damos uma reprodução lacunosa da descrição, pelo próprio Crowley, das circunstâncias em que ele recebeu o Livro da Lei. Trechos cortados e ajuntados livremente.

A cidade foi Cairo, Egípto. Há uma praça onde quatro ou cinco ruas se cruzam; é perto do Museu Boulak[7], mas bastante longe de Shepherd

As pessoas:

Eu, idade 28 anos e meio... Adeptus Major. Cansado de misticismo e desapontado com a Magia. Um racionalista, budista, agnóstico, anticlerical, antimoral, Tory[8] e Jacobita. (...) Moralidade – Sexualmente viril e apaixonado. (Em seguida há vários dados sobre sua personalidade, suas atividades de alpinista, e sua carreira como magista e qabalista. “Meus casamento foi um ininterrupto deboche sexual até a época da escritura do Livro da Lei.

(Sobre Rose Edith Kelly, sua esposa) Não lia coisa alguma, nem sequer romances. Era um ideal Poético, Amante, Esposa, Mãe, Dona de Casa, Enfermeira, Companheira e Camarada.

Nosso mordomo, Hassan ou Hamid, esqueço qual.

(Aleister Crowley termina:) Outrossim, não lidamos com ninguém no Cairo, a não ser nativos; ocasionalmente convivemos com um general Dickson, convertido ao Islam; mercadores de tapetes, proxenetas, joalheiros e gente assim.

Os eventos conduzindo à Escritura são narrados de modo conciso e incompreensível para profanos: “Tentei mostrar os Silfos a Rose. Ela estava em um estado de aturdimento, estúpida, possivelmente embriagada; possivelmente histérica com a gravidez”.

A sete de abril de 1904, “foi-me ordenado (através de Rose) que entrasse no “templo” exatamente ao meio-dia nos três dias seguintes e escrevesse o que ouvisse durante uma hora, nem mais nem menos”. (...)

“Os três dias foram similares, a não ser no último, quando fiquei nervoso, pensando que talvez não fosse capaz de ouvir a Voz de Aiwass.

A voz de Aiwass veio aparentemente sobre meu ombro esquerdo, do canto mais longe da sala. Parecia ecoar em meu coração físico de uma maneira estranha, difícil de descrever.

A voz era de timbre profundo, musical e expressiva, seus tons solenes, voluptuosos, ternos, ardentes, ou o que fosse apropriado às mudanças de humor nas Mensagens. A pronuncia inglesa era sem sotaque quer nativo ou estrangeiro; completamente vazio de maneirismos provincianos ou de casta; assim surpreendente, e até incrível, ao ser ouvida pela primeira vez.”

“Não mudes sequer o estilo de uma letra”, no texto – comenta Crowley – isto impediu que eu, Crowley, me intrometesse e estragasse tudo

E conclui:

“A Palavra de Aiwass deve apresentar uma perfeita descrição do Universo como Necessário, Inteligível, Auto-Subsistente, Integral, Absoluto e Imanente. Deve satisfazer a todas as intuições, explicar todos os enigmas, e harmonizar todos os conflitos. Deve revelar a Realidade, reconciliar a Razão com a Relatividade; e, dissolvendo não só todas as antinomias no Absoluto, como todas as Antipatias na apreciação da Aptidão, deve assegurar a aquiescência de toda faculdade humana na perfeição de sua aproposidade plenária..

“Libertando-nos de toda restrição quanto ao Direito, a Palavra de Aiwass deve estender seu império alistando a lealdade de todo homem e toda mulher que puser sua verdade à prova”.

“Nesta revelação está a base do presente Aeon. Dentro do registro da História já tivemos o Período Pagão; a adoração Natureza; de Isis a Mãe, do passado; o período Cristão: adoração do Homem, de Osíris, do Presente. O primeiro período foi simples, quieto, fácil e agradável; o material ignorava o espiritual. O segundo foi de sofrimento e morte; o espiritual se esforçava por ignorar o material. O cristianismo e todas as religiões análogas adoraram a morte, glorificaram o sofrimento, endeusaram cadáveres. O NOVO AEON é a adoração do espiritual unido ao material: de HORUS, a Criança Coroada e Conquistadora, do futuro.

Isis foi liberdade. Osíris, servidão; mas a nova liberdade é a de Horus. Osíris conquistou Isis porque Ela não o compreendia. Horus vinga tanto seu Pai quanto sua Mãe. Esta Criança, Horus, é um gêmeo, dois em um. Horus e Harpocrates são um, e são também um com Set ou Apophis, o Destruidor de Osíris. É pela destruição do princípio da morte que eles nascem. O estabelecimento deste Novo Aeon, deste Novo princípio Fundamental, é a Grande Obra agora a ser executada no mundo”.

Em 1833, com dezoito anos de idade, determinou-se a colocar a Magia em bases totalmente científicas; e no sentido de distinguir a Ciência dos Magi de todas as conotações negativas que a palavra despertava, adotou a antiga grafia inglesa MAGIK [9]. E desde aquela data até hoje a vida deste homem tornou-se ponto central de acirrada discussão.

Quem, ou o que, foi Aleister Crowley? Por que tornou-se tão discutido? Qual sua influência sobre o moderno movimento ocultista? Se foi realmente um degenerado Mago Negro da pior espécie, como afirmado por certos comentaristas, então por que grande número de ocultistas, das mais variadas correntes, vão beber seus ensinamentos, e o citam como alta, e genuína fonte de Conhecimento Oculto? Qual, afinal. O real motivo subjacente em tanta polêmica a seu respeito, vida e obra? Foi ele um satanista, ou simplesmente um charlatão, como muitos outros que soube, melhor que ninguém, explorar a crendice humana?

Sobre estas questões discorreremos sucintamente neste trabalho.

Certa vez, Parzival Krumm-Heller (filho de Arnold Krumm-Heller, fundador da FRA), diante da observação um pouco desrespeitosa feita por certo Aspirante a respeito de Crowley, disse-lhe que “não deveria julgar o homem sem antes familiarizar-se com suas doutrinas”. Envegonhado, o Aspirante teve que admitir a justiça da observação. Não posso deixar de aceitar amplamente a observação da Parzival, que somente se estudarmos profundamente a obra e as doutrinas de um homem – analisando detidamente todas as implicações sociais e espirituais, no atual contexto – estaremos capacitados a fazer qualquer julgamento a respeito de e de seu legado.

Muitos, talvez, criticarão esta teoria. Mas não é uma teoria, e sim um fato de justiça, uma vivência pela qual passei durante os últimos vinte anos de estudos e práticas thelêmicas, cada vez mais me assombrando diante da penetração, genialidade e propósito que, cognominado “O PIOR HOMEM DO MUNDO”, tem sido tão mal interpretado, compreendido e ferozmente combatido exatamente por aqueles que mais necessitam “ver” a mensagem contida na vida e obra dele.

Infelizmente, tais pessoas – “ocultistas em geral” – se aproximam de Crowley com o mesmo ranço dominante naqueles que relutantemente negaram-se a olhar através do telescópio de Galileu , cinicamente afirmando já saberem, de ante-mão, ser impossível a existência de crateras na Lua. Posição esta bem característica e sistemática daqueles senhores “vestidos de negro”, tão ciosos na defesa de seus irracionais dogmas, atrasando, assim, a evolução humana durante séculos.

Em 1933, Aleister Crowley, escreveu uma série de artigos para uma revista, na qual, sucintamente, explicava a Magia Negra nos seguintes termos:

“Para praticar Magia Negra você terá que violar todos os princípios da Ciência, decência e inteligência. Você necessita estar insanamente obcecado pela idéia da importância dos desprezíveis objetos de suas aventuras e desejos egoístas. Eu tenho sido acusado de ser um Magista Negro. Nunca tal tola afirmação fora feita a meu respeito. Eu mal posso crer na existência de pessoas tão degradadas e idiotas ao ponto de se dedicarem à estas práticas.

A Missa Negra é um assunto totalmente diferente. Eu nunca poderia celebrá-la, mesmo que quisesse. Pois não sou um sacerdote consagrado da Igreja Cristã.” (Os grifos são meus).

Infelizmente, muitos dos que se dizem iniciados, esoteristas, ou qualquer outro nome que se queira dar, não compreenderam estas palavras. Não serei eu, evidentemente, o destruidor de suas ilusões. “Ouça aquele que tiver ouvido de ouvir”.

No estudo da vida de Crowley, não deveríamos nos limitar à este ou aquele biógrafo em particular, e sim recorrermos à todos quantos, pró ou contra, esboçaram alguma coisa sobre ele. A pesquisa biográfica, sem dúvida, nos daria subsídios à abertura de um amplo horizonte seguramente mais rico e completo, no qual localizaríamos importantes contradições registradas por biógrafos e comentadores levianamente escrevendo, e cujos escritos somente visam, em grande parte deles, lançar mais confusões a respeito do personagem e (ou) ganhar popularidade em certos círculos, aumentando, assim, a venda de seus péssimos textos, pouco se importando o quanto, os fatos, são verídicos ou não.

Através a pesquisa diversificada não estaremos timidamente limitados à opinião de um só autor como, por exemplo, Israel Regardie, cuja volumosa obra “The Eye In The Triangle”, enfoca A. Crowley sob a preconcebida visão do (péssimo) discípulo e secretário particular que ele foi de Crowley. Este senhor, além de tudo, peca pelo ressentimento alimentado, durante toda sua vida, contra o Mestre. Embora não havendo explicita alusão ao fato deste ressentimento, Regardie, aqui e ali, deixa inconscientemente transparecê-lo, quando comenta a personalidade de seu Mestre no plano puramente mundano, esquecendo-se (ou fingindo esquecer) que Perdurabo, V.V.V.V.V. e Therion não são o homem Crowley, mas sim algo muito além de sua compreensão e, evidentemente, divorciados inteiramente das idiossincrasias humanas do homem Crowley e do contexto social da época, cuja radical mudança tornara-se ponto crucial de sua missão como Profeta do NOVO AEON.

Em 1964, fui admitido em uma Ordem Thelêmica, recebendo assim uma iniciática interpretação dos Sistemas empregados por Crowley na Consecução Espiritual. Isto me dirigiu rapidamente à inteira reformulação de todas as minhas anteriores “crenças”, podendo perceber mais claramente a Obra e Doutrinas do M. Therion. Constatei, que certos errôneos conceitos, incutidos nas mentes imantadas pela Igreja de Roma, não são fáceis de se apagar; parte devido à massiva ignorância sobre o assunto, e parte devido à pré-conceitos resultantes do complexo de culpa derivado do, assim chamado, Pecado iriginal.

Em 18 de novembro de 1898, Crowley, iniciou-se na Ordem Hermética da Aurora Dourada (G.´.D.´.) por convite de GEORGE CECIL JONES (FRATER ACHAD), assumindo o Nome Mágico PERDURABO (Eu Perdurarei Até o Fim). Jones não somente propôs Crowley como membro da Ordem, mas também deu-lhe uma cópia de “O LIVRO DE ABRA-MELIN O MAGO”, juntamente com algumas instruções preliminares sobre o uso prático do mesmo. Este livro lhe revelou as possibilidades do Trabalho Mágico prático.

Algum tempo antes, Crowley, tornara-se cônscio de uma Hierarquia Espiritual ao ler “NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO”, de Eckarthausen. A respeito disso ele escreveu:

“Foi este o livro que me despertou para a existência

de uma Secreta Assembléia de Santos, e me determinei

a devotar toda minha vida, sem deixar de lado o menor

detalhe, ao propósito de me tornar apto a entrar naquele

Círculo”.

Embora o livro estivesse escrito na linguagem do misticismo cristão, a idéia de uma hierarquia espiritual não se restringe apenas ao cristianismo. Também é encontrada no Sistema Budista, na Linhagem do Misticismo Hindu, e em outros Sistemas existentes no mundo.

O progresso de Crowley na Ordem fora surpreendentemente rápido. Ele, sucessivamente, tomou os preliminares graus de Zelator, Theoricus e Practicus entre dezembro de 1898 e fevereiro de 1899, e após o intervalo estatutário de três meses, assumiu em maio o grau de Philosophus.

Após um ano de sua iniciação, já havia atingido o mais alto grau que Mathers (Chefe da Ordem) estava apto a lhe conferir. Entretanto, anos antes, quando estudando em Cambridge, havia ele passado por um trance característico chamado, no Buddhismo, TRANCE DA DOR; assim compreendendo a futilidade de toda ambição humana; então, agora, atingindo o máximo de sua carreira na Ordem, foi exaltado por similar senso de futilidade, fazendo-o abandonar a GRANDE OBRA ELA MESMA.

Crowley tem sido apontado como a principal causa da divisão, declínio e destruição da G.´.D.´.. Analisando os eventos ocorridos em 1900, constataremos que tal acusação não possui qualquer base sólida, apoiando-se apenas no antagonismo pessoal que existia, e existe, contra ele. Crowley serviu apenas como pretexto para os revoltosos instalarem o caos na Ordem chefiada por Mathers.

VIRGINIA MOORE aponta cinco prováveis motivos da queda da Ordem:

1 – Yeats sentira-se ludibriado porque Mathers, ao ir para Paris, nomeara FLORENCE FARR (DION FORTUNE) como sua substituta;

2 – Yeats e outros membros estavam ressentidos pelo fato de terem esperado, durante anos, pelos assim chamados, altos graus;

3 – O grupo londrino ficara irritado pelo voto de obediência à Mathers;

4 –O título de Conde GLENSTRAE, assumido por Mathers havia irritado aos membros ingleses;

5 – Toda disputa fora criada pelo amparo que Mathers dera a Crowley.

Nesta seqüência, observamos que o “problema Crowley” é colocado em quinto e último lugar. Uma opinião duvidosa que é, maliciosamente, colocada em evidência (em primeiro lugar) em vários outros autores.

A verdade é que quando Crowley solicitou seu avanço ao Sublime Grau de Adeptus Minor, os chefes da LOJA ISIS-URÂNIA recusaram o pedido. Logicamente, eles tinham o direito a esta recusa – aceitar ou recusar candidatos ao CÌRCULO INTERNO constituía um de seus privilégios. Entretanto, no caso de Crowley, existiam motivos puramente pessoais envolvidos na decisão, o que era contrário a qualquer Regra da Ordem. Desfiara aqui toda trama desenvolvida em torno do assunto não daria num trabalho como este. Tudo piorou quando, percebendo injustiça da decisão, Mathers aceitou o pedido de Crowley, iniciando-o em Paris no Grau de Adeptus Minor, abrindo, assim, as Portas da Ordem Interna à Perdurabo.

Mas, nisto tudo existe um fator importantíssimo e desconhecido, é claro, pela maioria dos comentadores da Ordem: é que havia chegado a hora da G.´.D.´. sair do cenário. Isto torna-se bem claro quando, retrocedendo anos atrás, tomamos conhecimento de que os próprios pares da Frau Sprengel (Sóror S.D.A.) se opuseram, desde o início – mas sem interferir – à iniciativa daquela “Adepta”, e verdadeira iniciadora da Ordem.

Não constitui nenhum segredo o fato que em 1891 toda correspondência enviada para os primeiros chefes da Ordem cesou, e que uma comunicação, vinda da Alemanha, estabelecia o seguinte:

1 – Anna Sprengel havia falecido;

2 – Seus Pares, na Alemanha, não haviam aprovado sua iniciativa, e que mais nenhuma informação seria fornecida ao grupo de Londres. E que se eles desejassem estabelecer um “Elo” com os MESTRES SECRETOS da Ordem, o deveriam fazer por iniciativa deles mesmos.

Disto, concluímos que a Ordem, segundo esta declaração, não estava, ainda, ligada aos Mestres Secretos, isto é, aos Senhores da Evolução Humana.

O assunto se esclarece ainda mais em vista das palavras do próprio Regardie: “Quando anos mais tarde tornei-me membro da STELLA MATUTINA, que nada mais era do que a G.´.D.´. cristianizada pelo grupo dissidente (os grifos são meus).

Eis aí a “chave” de tudo. O real motivo de tanto antagonismo à Crowley, pois os membros revoltosos sabiam, de ante-mão, que caso ele permanecesse na Ordem (G.´.D.´.), como membro do Círculo Interno, seria muito difícil, senão impossível, a infiltração dos esbirros do Credo de Nicéia naquele centro iniciático. Mas, nisto eles estavam equivocados (como sempre), pois à Crowley nada importava o destino da Ordem que ele sabia já ter cumprido sua missão. A G.´.D.´. já havia preparado o Caminho da Ordem chamada A.´.A.´..

Após toda uma série de eventos, Crowley decide destruir a Ordem e seu chefe; e assim o faz (isto é: ele publica os rituais (secretos?) da G.´.D.´.).

Devo também esclarecer que vários membros da Loja Isis-Urânia eram fortemente ligados àqueles rançosos puritanismos de um sistema de ocultismo retrógrado, determinado a estabelecer como “padrão” que Adeptos devem ser tristes, não rirem, não dançarem, não beberem, não fumarem e que não “trepam”. Este último item principalmente que, para as podres e confusas mentes deles, representava um ato degradante e impuro (eu só queria saber como eles nasceram...). Porém, acontece que o ato não é degradante e nem impuro. Como diz Sir Peladan: “O fato da humanidade fazer amor como faz quase tudo, isto é, estúpida e inconscientemente, não impede que o seu mistério continue a manter a dignidade que lhe corresponde”. Se nesta frase trocarmos a palavra humanidade por “católico romano”, atingiremos a essência do pensamento Thelêmico. “O ato de amor é, para o cristão (romano), um gesto animal grosseiro que envergonha a humanidade que ele tanto se gaba. O apetite o arrasta pelos cascos; cança-o, o adoenta, torna-o ridículo até em seus próprios olhos. É a fonte de quase todas as neuroses dele” (Líber AL. I. 5 – Comentários).

Após os membros da G.´.D.´. terem recebido a comunicação de que toda a correspondência, com a Alemanha, cessaria, a Ordem sofreu grande mudança devido ao fato da falha de Mathers manter um Elo Mágico com a Corrente Oculta da A.´.A.´.. Isto fez com que os Chefes Secretos da Ordem cortassem os contatos de Mathers com os Planos Internos.

Mathers, um magista de grandes poderes, ainda tentou sua última e derradeira cartada e, num passe de mágica endereçou um Manifesto, aos membros da Ordem de R.R.et A.C., declarando ter realizado o contato necessário com os Mestres Secretos. Entretanto, ficou evidente a mistificação.

Crowley e Jones, veros iniciados, percebendo toda a maquinação, imediatamente instituíram um rigoroso teste em Mathers e na Ordem. O rsultado deste teste está registrado em “A LIÇÃO DE HISTÓRIA”.

“Ele percebeu que S.M.R.D., se bem que um

letrado de alguma habilidade, e um magista de notável

poderes, não havia nunca atingido completa iniciação:

e mais, havia caído de seu posto original, tendo atraído

imprudentemente para si forças do mal demasiadas

grandes e terríveis para ele supotá-las.

Ele, portanto, por sua sbedoria sutil destruiu a

Ordem e seu chefe.”

O fato é que nos anos sucessivos, Crowley, prosseguiu pacientemente em suas práticas e, em 1904, recebeu o Livro da Lei, ditado por uma entidade praeter-humana de nome AIWASS. Com este Livro, tecnicamente chamado de Líber AL vel Legis, torna-se evidente o contato de Perdurabo com os Mestres Secretos. Líber AL também é considerado a NOVA GNOSIS, o último TANTRA, e o mais completo GRIMOIRE que já se teve notícia. É o primeiro testemunho de uma inteligência descarnada agindo diretamente no Plano Físico. Livros inteiros foram escritos sobre Ele, o mais importante Líber e a base de todo o Sistema Thelêmico subseqüente.

Originalmente recebeu o nome de Líber L, sendo mais tarde retitulado Líber AL e, geralmente, é chamado Líber Legis, ou O Livro da Lei. Sua recepção, na cidade do Cairo, assinala o início do AEON DE HORUS e o término do AEON DE OSÌRIS. Os três Capítulos deste Livro foram ditados a Crowley durante três dias (8, 9 e 10 de Abril) em sessões de uma hora, do maio-dia às treze horas. Como dito anteriormente, a entidade ditante, AIWASS ou AIWAZ, mostrou-se como um ser possuindo conhecimento e pré-ciência muitíssimo além de qualquer coisa associada às faculdades puramente humanas. Crowley nos informa em “THE EQUINOX OF THE GODS” (London – OTO – 1936 – pgs, 117/118):

“A voz de Aiwass veio aparentemente por cima

de meu ombro esquerdo, do canto do quarto (...). A

voz era fluente e apaixonada, como se Aiwass estivesse

alerta com o tempo limite (...) Eu tinha uma forte

impressão que o ditante estava atualmente no canto

onde me parecia estar, em um corpo de matéria fina,

e transparente como véu de gaze, ou uma nuvem de

incenso. Parecia-me ser um alto, moreno homem em seus

trinta anos, saudável, ativo e forte, com a face de um

rei selvagem, com os olhos velados para que a sua

mirada não destruísse o que fixava. A roupagem não

era árabe; parecia Assíria ou Persa, mas muito

vagamente.”

Maiores detalhes sobre o Livro da Lei podem ser apreciados em “CONFESSIONS” e, de maneira mais técnica no “EQUINOX”.

Muitos “teósofos, ocultistas e,principalmente, qabalistas” têm criticado o uso do número 11 (onze) como cifra da MAGICK, desenvolvida por Crowley. Nada podemos fazer senão concordar que o ONZE é o número do Qliphod, o desequilibrado resíduo “posto fora” e, portanto, fora de Árvore da Vida. Mas, o homem tem que triunfar sobre estas forças desiquilibradas em sua própria natureza, antes que possa tornar-se um MESTRE MAGISTA, senão permanecerá como estes “magos” que se apresentam na televisão, e em outros lugares, declarando serem os únicos e verdadeiros do mundo, os únicos no “caminho certo”: mas evitando declarar que, no início de suas “carreiras” mágicas, foram beber na fonte crowleyana.

No sentido de fortalecer-se magicamente, o Aspirante tem que evocar os Qliphod, o que fará formulando o PENTAGRAMA INVERTIDO (a Estrela de Seth), mas isto ele fará somente após estabelecer a supremacia mágica equilibrando, Em Si Mesmo, os cinco elementos representados pelo PENTAGRAMA NÃO INVERSO (A Estrela de NUIT). O magista é, ele mesmo, o décimo primeiro, ou o ONZE, porque estará sempre fora, e acima, da operação dos DEZ (isto é, os DOIS PENTAGRAMAS.) O Onze também pode ser apreciado no símbolo (Um Pentagrama inscrito no centro de um Hexagrama), ironicamente usado pelos “ocultistas” que protestam ser “Magos Brancos”... e ainda além de tudo ligados à corrente romana. É de se rir com estas coisas...

A análise deste símbolo deixo a cargo dos “exímios” qabalistas que andam por aí, e que são tão incucados com a sombra do “diabo”.

Àqueles que tanto se referem à ERA DE AQUARIUS , PORQUE ISTO TORNOU-SE MODA, DEVO LEMBRAR QUE ESTE SÍGNO ZODIACAL É O DÉCIMO PRIMEIRO.

Quando o homem equilibra os Quatro Elementos, ou as Quatro Forças Cegas do Demiurgo, representadas pelas quatro pontas mais baixas do pentagrama, ele torna-se YHShVH, e tem que descer aos “Infernos”. Esta operação encontra-se bastante clara na alegoria do Novo Testamento. Só não vê quem não quer...

Da mesma maneira, a Besta com Sete Cabeças recebeu uma totalmente distorcida interpretação. O Senhor Krumm-Heller, que foi em seus dias membro da O.T.O. e Chefe da F.R.A.(Ordens das quais Crowley, ou melhor BAPHOMET XI°, foi o Supremo Grão-Mestre), nos diz textualmente: “Las siete cabezas del monstruo apolcaliptico, representam o SEPTENARIO que desde remotas edades fue aceptado em la Índia por germanos y gnosticos” (LA IGLESIA GNOSTICA).

Mas esta ainda representa uma interpretação bastante velada. Frater HUIRACOCHA não desejava, pelo visto, abrir demasiadamente os véus.

A Besta com suas Sete Cabeças que atinge sua “apoteose” no octoplo Poder chamado BAPHOMET (oito letras), o glifo do andrógino velando a secreta fórmula de Mudança através polaridade sexual em forma humana; sendo portanto a “Chave da Magia Sexual”.

Muitos qabalistas têm convenientemente esquecido o fato de que o ONZE corresponde ao CAMINHO DE ALEPH na Árvore Sephirotica, transmitindo a LUZ de KETHER à TIPHARETH: este caminho simbolizando a transmissão da LUZ SUPREMA ao MAGUS (CHOKMAH) pela fórmula do Divino Louco. Aleph, “O TOLO” no Taro, é também o “LOUCO”.

O Caminho de Aleph é o Caminho da Sabedoria ou da Loucura. Aleph, soletrado em cheio, dá ALPH = 111, Onze na Grande Escala. Numa análise mais profunda poderemos dizer que Unir-se à Deus (Kether) consiste na realização de Identidade do magista (Malkuth) com Deus (Kether), isto é, Kether = 1; Malkuth = 10, donde 1 + 10 = 11.

Ao atingir o Grau de MAGUS, em 1915 (onze anos após receber o Livro da Lei), CVrowley, assumiu o nome TO META THERION – A Grande Besta . Este moto mágico tem servido para que muita besteira seja dita por aí. A Besta 666 é, de fato, o DRAGÃO DE SETE CABEÇAS mencionado no Apocalipse; mas cujo significado foi totalmente deturpado para atender a interesses escusos.

A Besta 666 é o LEÃO SOLAR. Símbolo da Energia do SOL. A Besta é O OLHO NO ABISMO ( O Sol no Centro do Sistema), BAPHOMET, o Chefe Secreto dos Verdadeiros Mações. O próprio João Batista a Ele se refere ao anunciar “EU SOU A VOZ (O Logos) QUE CLAMA NO DESERTO” (isto é o ABISMO). O Olho sendo representado, em nosso sistema, pela ESTRELA SOL, e o Abismo, é o ESPAÇO INFINITO. Na Árvore Da Vida, Ele é TIPHARETH, que no Sistema Thelêmico (A.´.A.´.) corresponde ao Grau de ADEPTUS MINOR, conferindo ao Iniciado o título de YHESHUA, isto me, IHShVH – Os Quatro Elementos, representado pelo Tetragrama Sagrado (IHVH), equilibrados no Cruz, em cujo Centro fulgura a letra ShIN (c), a letra do ESPIRITO SANTO, ou seja: a Tripartida Língua de Fogo do Petencostes, simbolizado também através do TRIDENTE DE NETUNO, que os imbecis da Igreja de Roma colocam na mão do “diabo”.

O Dragão de Sete Cabeças tem o mesmo significado dos SETE SELOS, mostrando de que maneira o número 666 é o número de um HOMEM, pois as Sete Cabeças representam Sete Estações da ESTRELA POLAR (SIRIUS ou SETH, no Antigo Egipto). Seth ou Sírius é uma estrela da Constelação de Cão, ou AN em Egipcio antigo, daí SETH AN – SATAN – a Estrela da Constelação de Cão. Cada uma dessas Sete Estações “caindo” ou “abatendo-se” em vastos períodos de tempo, o inteiro processo levando 2600 anos para se completar. Este processo constitui um Grande Ano no Ciclo da Precessão. Todo o simbolismo sendo mítico e astronômico. As Sete Cabeças estão tipificadas por inúmeras imagens possuindo seus protótipos terrestres como símbolo de Poder Mágico. A queda final (desaparecimento) da SEXTA CABEÇA, feia a imagem de um Homem, isto é, uma Estrela representada pela imagem humana, jamais constelada nos céus, o Signo de HERU, HORUS, O HEROI ou Hercules na astro-mitologia grega. No Zodíaco de Dendera, Sirius é mostrada como a ÁGUIA ou FALCÂO, o mais conhecido símbolo de HORUS.. Por isto nós denominamos a Nova Era de Era de Aquarius-Leo ou Aeon de Horus. E por isto também é dito que o LEÃO SE DEITARÁ AO LADO DO CORDEIRO, E SERÃO CONDUZIDOS POR UMA CRIANÇA (HORUS).

O Nome BABALON para significar a função da Mulher Escarlate (A Mulher vestida de púrpura montada na Besta – Apocalipse) defere da versão católica romana, não somente em relação à sua ortografia, mas também por várias outras razões. No Novo Testamento, a concepção é uma corruptela daquela antiga e mágica tradição, da qual – fora dos Santuários da Iniciação – a “sagrada prostituição” é a única forma que restou na História.

Babalon possui o valor numérico 156; enquanto que a corruptela BABYLON (Babilônia, na Vulgata) usada na versão do Novo Testamento, somo 165. Um-Cinco-Seis, por outro lado, vela muitas idéias com respeito à função da Mulher Escarlate. Por exemplo, é o número de TzIVN, ZION, a Montanha Sagrada; e também o número da CIDADE DAS PIRÂMIDES. Esta Cidade simboliza, é claro, BINAH, a Terceira Sephira. Noutro senso, esta “Cidade” compreende uma série de secções piramidais – 156 no total – em cada um dos quatro lados das “TORRES DE VIGILÂNCIA DO UNIVERSO”.

Aos leitores, devemos aqui esclarecer que aquilo que se apresenta como “Cristianismo Histórico” não passa de um amontoado de lendas, rituais, palavras de passe e sistemas deturpados de consecução espiritual, distorcidos e adaptados pelos sacrílegos de Roma no único propósito de atender uma posição política, baseada na manutenção da escravidão espiritual do homem. Maiores detalhes sobre todo assunto devem ser estudados em “CROWLEY ON CHRIST”, no qual é analisada a vida de “Jesus”, os “Evangelhos” e a própria cristandade.

Somente podemos apreciar as doutrinas de Mestre Therion, quando garimparmos através das religiões que precederam o cristianismo romano. Recentemente, chegaram ao Brasil,alguns bom livros de autores não crowleyanos sobre o assunto, nos quais os leitores poderão ter uma idéia inicial a respeito daquilo que denominamos a GRANDE FEITIÇARIA.



[1] Nota de E.: O termo “sacrificar”, aqui, não possui a malsã conotação dada a ele pelo sistema romano alexandrino. Sacrificar-se é, em sua real acepção, aquilo que “torna-se sagrado” (de “sacri ficare)

[2] - Nota de E.: Na realidade jamais existiu uma Anna Sprengel, de Nuremberg. A existência dessa pessoa era apenas um véu.

[3] - Esqueceram-se da fórmula que diz que “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”

[4] - Nota – Hoje em dia fica claro de que Germer possuía um certo arrefecimento para com a O.T.O.. Isto fica mais claro ao examinarmos a correspondência dele com K.Grant e outros.

[5] Nota: Uma das características daqueles inclinados para a magia.

[6] - Nota: Mas no Fim nada havia para perdurar. O nome Perdurabo tem como letra final o “o” ou “0” (zero).

[7] - Com referência ao Museu de Boulak, onde Crowley diz ter encontrado a Estela da Revelação, por intermédio de Rose, sua esposa, existe um fato interessante; É dito que este encontro fdeu-se em 1904, mas em 1902 (isto é, dois anos antes) fora inaugurado a Museu do Cairo, para onde foram levadas todas as coleções do Museu de Boulak. Portanto, como pode ter Crowley encontrado a Estela em Boulak, se este já não mais existia em 1904? (Ver: “O EGITO DOS FARAÓS” , de Federico A. Arborio Mella – 3° Edição)

[8] - Nota: Tory é o nome do antigo partido de tendência conservadora do Reino Unido, que reunia a aristocracia britânica. No princípio, tinha conotações despreciativas já que procede da palavra irlandesa thairide ou toraighe que significa bandoleiro, homem armado que se dedicava ao roubo e a pilhagem. Os whigs eram aqueles que apoiavam a exclusão de Jaime II, convertido ao catolicismo, dos tronos da Escócia, Inglaterra e Irlanda, enquanto os tories eram quem lhe apoiava.

[9] - Magick – O anglo-saxão “K” em Magick, é um meio de indicar o tipo de magia executada por Crowley. “K” é a décima-primeira letra de muitos alfabetos, e onze(11) é o principal número da magick, porque é o número atribuído aos Qliphod. O “K” possui outras mágicas implicações: ele corresponde ao poder ou ao shakti aspecto de criativa energia, pois “K” é o antigo Egípcio Khu, o poder mágico. Especificamente ele aponta para Kteis (vagina), o complemento do “wand” (bastão ou Phallus), que é usado pelo Magista em certos aspectos da Grande Obra.